09/01/06: Salta/ARG - Pres. Roque Saenz Peña/ARG

 

Acordamos e partimos em direção ao inferno. De novo! O "Pampa dos Infernos" nos aguarda...

Demoramos um pouco a achar a saída de Salta. Assim que deixamos a cidade, já com o sol alto, um policial nos pára na praça do pedágio. Pede pra ver toda a bagagem. E dá-lhe abrir todas as bolsas e cozinhar no sol com as vestes de motociclista. Ele não acha nada (nem sei o que procurava, aliás, visto que sequer estávamos próximos de alguma fronteira) e nos libera. Pelo menos também não pede propina.

Pegamos a rodovia que corta o Chaco, e dá-lhe calor. Paramos a cada posto (o que não tem com frequência, deve-se frisar) e tentamos nos refrescar de algum modo. Quando achamos duchas, entramos debaixo com roupa e tudo, jaqueta, calça, bota. Saímos com a moto e em 5 minutos estamos secos de novo e cozinhando sob o sol. Os termômetros marcam 53º C. Nem sabia que existia tal temperatura, e que fosse possível sobreviver a ela.

Depois de vários "arranjos" com as roupas, descubro que o melhor é pilotar isolado do ambiente: jaqueta fechada até o pescoço, luvas, calça comprida, botas... Como o ambiente está bem mais quente que o nosso corpo, o vento só serve pra nos aquecer ainda mais. Então nos fechamos dentro de nossas roupas para passar o dia a temperaturas mais amenas como... uns 45-50º C.

Ninguém se sente muito bem e nos dispersamos. Cada um tem uma necessidade diferente para parar, descansar e tentar se refrescar um pouco. Falei pro pessoal que iria escrever um relato com o título "O Atacama é mole, duro é o Chaco".

Foi duro, mas sobrevivemos e chegamos a Saenz Peña. Foi, disparada, a condição mais dura em que já pilotei. E tenho anos fazendo trilha de moto, empurrando moto barranco acima sob sol a pino, no verão, com calça, bota, colete, capacete. Mas nada se iguala ao Chaco no verão.

Paro no bar "de sempre" de Saenz Peña para esperar os demais. Tinha pensado em tomar uma Quilmes, mas acho que a cerveja não me fará bem. Tomo um litro de Coca-Cola. A Coca, depois de 15 minutos aberta, parece um xarope. É noite, mas ainda passa de 40º C tranquilamente. Converso com um senhor local que diz ter duas filhas lindas, uma engenheira de alimentos e outra engenheira química, que ele "precisa" me apresentar. Talvez Saenz Peña não seja tão ruim assim... Mas não vai ser dessa vez que conhecerei as "beldades", amanhã tem mais Chaco. Pergunto pro senhor como vivem com aquele calor, ao que ele me diz que "pelo menos não tem furacão ou terremoto"...

Marcelo e Karla arrumaram um hotel infinitamente melhor que o anterior. Chama-se Presidente. O arquiteto do hotel é um assassino, as paredes fervem mesmo de madrugada. Deve ser feito de pedra. Mas tem um ar condicionado que dá conta do recado. E o aparelho emite o som agradável de um DC-10 decolando... Tento desligar o ar de madrugada, mas começo a suar e tenho que ligá-lo novamente, apontado diretamente para mim. Pampa dos Infernos...

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